13 setembro 2009

Bienal do Livro (clique aqui).

Uma loucura! Cheguei de lá ainda há pouco. Até que a coisa estava melhor do que supunham minhas péssimas previsões. Pensei que, mesmo chegando antes das 14h no Riocentro, ia ter que encarar o maior tumulto. Já tinha bastante gente lá, mas o local estava transitável.

Minha intenção primeira era ir ao Café Literário e assistir ao debate sobre criação literária, com a Adriana Lisboa e o escritor norte-americano Eli Gottlieb. Dela conheço alguns contos e uns poucos artigos. Dele conheço nada. Peguei a senha com tranquilidade, fui a um estande comprar um livro técnico e voltei para o Café. Aliás, montaram um espaço bonito e aconchegante para esses encontros literários. Gostei muito.

A mediação do debate foi bem conduzida e os autores realmente se ativeram ao tema. Como eu não anotei nada e minha memória é RAM, de pouca coisa me lembro. Do que foi comentado, o que mais me impressionou foi saber que nos Estados Unidos somente três por cento da literatura de lá é estrangeira. E a literatura brasileira representa alguma porcentagem centesimal dentro desses míseros 3%. Gottlieb, inclusive, logo de cara comentou sua admiração de ver o pessoal se acotovelando por um livro na Bienal. Ele disse que o hábito de leitura em seu país está “entrando em extinção”.

Já na França, segundo a Lisboa, existe uma editora chefiada por uma mulher que se dedica à divulgação da literatura brasileira neste país. A autora comentou, inclusive, que um de seus romances já está na segunda edição por lá. Confesso que senti arrepio nessa hora, como tô sentindo agora.

Perguntados sobre a influência da crítica em suas criações literárias, ambos os escritores revelaram que não estão nem aí para elas. Eli Gottlieb chegou a dizer que se irrita com a “crítica burra” de pessoas que comparam seus romances a novelas e que não levam em conta o tempo e o empenho que ele dedica às suas obras.

Outro ponto interessante que a escritora destacou foi a tendência que os autores têm em fazer do primeiro romance que eles escrevem algo autobiográfico. Ela acredita que haja um certo desespero, um afã de se querer abordar muitos temas ao mesmo tempo, talvez porque exista uma sensação de que aquela vai ser a única chance que o romancista tem de escrever um livro.

E por aí foi. Os dois autores pareciam à vontade e demonstraram admiração e concordância mútuas com o que expunham, como, por exemplo, o fato defendido pelos dois de que não existe um estilo literário mais indicado para um escritor iniciante ser reconhecido. Gostei quando a Adriana falou que o autor precisa de uma boa resenha e de um trabalho bem feito de divulgação pela mídia para fazer o leitor tomar conhecimento da obra dele.

Terminado o debate e o lanche delicioso que fiz enquanto ouvia os escritores, fui perambular pelos pavilhões. Nossa, o clima já era outro. Logo na saída do Café Literário havia uma pequena multidão fanzendo fila para assistir ao debate com o teólogo e católico Leonardo Boff e o jornalista espírita André Trigueiro. O mais engraçado é que, quando fui devolver aquele aparelhinho para ouvir a tradução simultânea, tinha gente querendo o raio do apetrecho. Neguinho ficava meio surpreso ao ser informado que para aquele debate não haveria tradução. No mínimo acharam que o “bofe”, pelo sobrenome, nem era brasileiro. Sei que meu trocadilho é infeliz, mas a ignorância do povo o é ainda mais, admitamos.

Com o avançar da tarde aquilo lá foi ficando insuportável e congestionado com o mundaréu de pessoas que brotava. Ainda assim dei uma circulada. Eu queria trocar três livros meus lidos e dos quais pretendia me desfazer por mais três que eu não possuísse, na tal da Estante Virtual. Uma fila em rococó contínuo me fez abortar a operação. E essa desistência ainda me levou a quebrar a promessa de que eu só iria olhar livros, sem comprar nenhum romance. Eu estava (estava!) decidida a voltar a ler os autores clássicos, como Guimarães Rosa, Machado de Assis ou Eça de Queiroz, todos presentes aqui na rica estante de casa e tão órfãos de pai quanto eu. No fim das contas, eu trouxe três Saramagos, um Scliar e o único Hatoum que eu ainda não tinha.

Agora estou com mais livros e menos promessas. Deixa a literatura me levar, já que é tudo coisa boa mesmo...