07 novembro 2011

Almodóvar em expansão.

Fui ver “A Pele que Habito” e achei o filme excelente. Li algumas críticas - muito bem embasadas, por sinal - e percebi que elas divergem bastante. Quem assiste a um filme do Pedro Almodóvar já sabe que ele vai usar um bocado de elementos diferentes para incomodar o expectador com aquele seu estilo irreverente de mostrar o lado tão humano quanto animalesco da nossa espécie.

Só que dessa vez ele me pareceu ainda mais ousado e mais inteligente. Isso não quer dizer obrigatoriamente que o famoso cineasta espanhol tenha sido perfeito, mas chegou bem perto disso. Foi uma grande sacada usar a ciência moderna - com a criação de uma pele transgênica e as questões éticas que envolvem o assunto - mais como título atrativo e pano (ou pele) de fundo do que como foco da história.

Ter a pele como tema deu uma ênfase quase pleonástica à plasticidade do filme. Serviu de elemento de ligação entre aparência, estética, obsessão e a fotografia impressionista sempre presente nos filmes do Almodóvar. O azul e o vermelho falaram mais alto, não sei se tão de propósito quanto parecia ou se foi minha cisma que os viu tão destacados. Viajei até numa possibilidade maniqueísta de essas cores representarem o venoso e o arterial, o nobre e o plebeu, o céu e o inferno e o bem e o mal. Pura viagem, admito.

O suspense, mais explorado desta vez, esteve amparado por uma ótima trilha sonora. A cronologia dos acontecimentos foi bem calculada para costurar a trama e cada fio encontrou sua respectiva meada até o final do filme. Que eu percebesse, nada ficou no ar e a coerência – almodovariana, obviamente – pôs todos os pingos nos is.

Apesar de haver opiniões controversas sobre “A Pele que Habito”, há unanimidade quanto à brilhante atuação do Antônio Banderas. Se o polêmico Almodóvar não conseguiu satisfazer a contento todos os públicos, coube então ao protagonista cumprir com maestria o dever de encarnar uma das características que mais nos torna humanos: a ambiguidade.