Fui ver “A Pele que Habito” e achei o filme excelente. Li
algumas críticas - muito bem embasadas, por sinal - e percebi que elas divergem
bastante. Quem assiste a um filme do Pedro Almodóvar já sabe que ele vai usar
um bocado de elementos diferentes para incomodar o expectador com aquele seu
estilo irreverente de mostrar o lado tão humano quanto animalesco da nossa espécie.
Só que dessa vez ele me pareceu ainda mais ousado e mais
inteligente. Isso não quer dizer obrigatoriamente que o famoso cineasta
espanhol tenha sido perfeito, mas chegou bem perto disso. Foi uma grande sacada
usar a ciência moderna - com a criação de uma pele transgênica e as questões éticas
que envolvem o assunto - mais como título atrativo e pano (ou pele) de fundo do
que como foco da história.
Ter a pele como tema deu uma ênfase quase pleonástica à plasticidade do
filme. Serviu de elemento de ligação entre aparência, estética, obsessão e a
fotografia impressionista sempre presente nos filmes do Almodóvar. O azul e o
vermelho falaram mais alto, não sei se tão de propósito quanto parecia ou se
foi minha cisma que os viu tão destacados. Viajei até numa possibilidade maniqueísta
de essas cores representarem o venoso e o arterial, o nobre e o plebeu, o céu e o inferno
e o bem e o mal. Pura viagem, admito.
O suspense, mais explorado desta vez, esteve amparado por uma
ótima trilha sonora. A cronologia dos acontecimentos foi bem calculada para
costurar a trama e cada fio encontrou sua respectiva meada até o
final do filme. Que eu percebesse, nada ficou no ar e a coerência –
almodovariana, obviamente – pôs todos os pingos nos is.
Apesar de haver opiniões controversas sobre “A Pele que Habito”,
há unanimidade quanto à brilhante atuação do Antônio Banderas. Se
o polêmico Almodóvar não conseguiu satisfazer a contento todos os públicos, coube então ao
protagonista cumprir com maestria o dever de encarnar uma das características
que mais nos torna humanos: a ambiguidade.
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