12 outubro 2011

A tirania da liberdade de expressão

Hoje eu estava lendo algumas matérias sobre a - quase certa - saída do Rafinha Bastos da Band, por conta de umas piadinhas infames que ele fez sobre pessoas famosas. Aí comecei a pensar na questão de como temos lidado com a tal da "liberdade de expressão".

Convivemos com uma barafunda de conceitos distintos e ambíguos. Houve um tempo em que aprendemos que era feio julgar os outros e, de repente, temos que usufruir o direito - duramente adquirido, diga-se de passagem - de dizer livre e inconsequentemente o que pensamos, numa espécie de folia do superego.

É moderno falar o que vai na cabeça, mesmo que esses pensamentos incluam opiniões aviltantes que guardamos sobre os outros. Então, não ter mais travas para emitir julgamentos sobre atitudes alheias não é mais errado, é vanguarda. E a contradição vai além. Temos também que reprimir a violência, com manifestações anti-homofóbicas e protestos contra a opressão daqueles que são vítimas de atitudes tiranas e exclusivas. E se somos agressivos e causamos constrangimento em nome dessa quase obrigação de dizer o que pensamos? Existe, então, uma exceção para usar a brutalidade? Ou a violência verbal virou coisa do passado?

Estamos nos tornando escravos e opressores, e também bandidos e vítimas dessa liberdade. A falta de limites gera pessoas imaturas e despreparadas para contribuir positivamente na sociedade. Se cabe aos pais impor limites na educação dos filhos, cabe a sociedade, fragmentada por grupos de concepções diferentes, discutir sobre o certo e o errado. E definí-los.

Não acredito que uma comunidade seja tirana porque impõe limites e determina um norte, inclusive para a liberdade. No entanto, tenho medo de uma sociedade permissiva demais. Sem o estabelecimento de um referencial sobre o que acrescenta e o que prejudica a coletividade, não haverá amadurecimento. Aceitar a violência verbal, respaldando-a sob o álibi da livre expressão, significa que somos coniventes com a brutalidade.

Alimento a esperança de que vivemos uma fase agitada, um momento tumultuado de passagem e que há uma delimitação de valores nos aguardando mais adiante. Torço pela retomada da ética e pelo resgate da inegável necessidade de que não existe vida social saudável fora do respeito pelo outro. Mas, por enquanto, vamos amargando a espera angustiante e a incerteza um tanto sombria sobre o triunfo do bem.

Nenhum comentário: