24 fevereiro 2007

Como pode isso?

Participo de um grupo de discussão sobre literatura, via Internet, e o mote do momento por lá é o Big Brother. O assunto tem nada a ver com literatura, penso eu, só que o pessoal discute até receita de bolo por essa lista. Fiquei surpresa de saber que uma turminha de pelo menos meia dúzia de confessos acompanha o programa rigorosamente em dia.

Eu acho o Big Brother um saco! E por mais que eu me esforce e que tente me abster de preconceito, não consigo entender como é que um programa desses é capaz de agradar um público TÃO eclético. Há quem justifique, de uma forma mais erudita, que aquilo dali é uma vitrine das mazelas do comportamento humano, ou que é um palco que prova que todo mundo tem seu momento de camarim. Prefiro a espontaneidade dos mais humildes que assistem àquela chatice porque adoram uma fofoca, um barraco, uns caras sarados e mulher gostosa. Cada um com seus motivos, mas com a mesma atração em comum: todo mundo vê o raio do programa!

Eu prefiro novela. Raramente perco um capítulo da que passa às nove. Seguramente há um bocado de gente que deve achar que novela é uma chatice e não entender como é que um programa desses agrada a um público igualmente TÃO eclético. Minha alegação de defesa é que adoro histórias bem contadas, incluindo as que se passam nas novelas.

Tudo bem que na maioria das vezes essas histórias não são tão bem contadas assim, tampouco se comparam as que são relatadas em um bom romance literário, lógico. O fato é que sempre acompanho as novelas desse horário, mesmo admitindo que algumas delas são chatíssimas e até meio fúteis. O amadorismo do Big Brother me irrita. Se é pra representar, fico com a novela. Por mais que elas possam imitar a realidade, há uma atmosfera fake mais bem criada ali que me entretém.

Sem mais, ao fim de cada capítulo, troco de canal ou desligo a televisão. A não ser que não tenha BBB depois... Hi hi hi.

19 fevereiro 2007

Ironias de família.

Paratodos
Chico Buarque

O meu pai era paulista

Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro...

Outro dia estive pensando em duas situações incomuns ocorridas em minha família. Vamos a elas:

Meu avô paterno era filho de portugueses. O pai dele - meu bisavô, obviamente - tinha um açougue em uma praça movimentada da Freguesia, em Jacarepaguá, aqui no Rio. Meu pai conta que seu avô era um lusitano típico: com sotaque, bigodão e uns modos meio grosseiros. Meu avô nasceu no Brasil e tinha um jeitão meio "ora, pois" também. Portugueses ou descendentes destes, residentes nesta terra descoberta por Cabral, são vascaínos, claro. Meu avô era flamenguista. Doente. Carregava o escudo do mengão em tudo o que era canto: carro, chaveiro, cueca e até no relógio de pulso. Fanático.

Até hoje, meu avô foi o únco flamenguista filho de portugueses que conheci.

Tem mais. Minha bisavó materna era filha de italianos, nascida em Minas Gerais. Foi criada em um internato de freiras e depois veio para o Rio e se casou com um advogado todo sério, segundo minha avó, filha deles. Lembro dos traços europeus dela: olhos cor de mel, pele bem branquinha e aquele nariz meio "pscitacídico", característico do povo "tutti buona gente". Ocorre que minha bisa freqüentava um centro de umbanda e recebia santo. Havia um altar enorme na casa dela, com umas imagens de índio, preto velho e outras figuras do gênero. Ela "atendia" pessoas doentes em sua casa, recebia a entidade evocada para o caso, fumava cachimbo e rezava esses necessitados.

Até hoje, minha bisavó foi a única umbandista filha de italianos que conheci.

O tema da quinzena dos "Anjos de Prata" desta vez é "Tão Brasil!". Pensei que eu precisaria queimar a mufa e escavacar a imaginação até conseguir compor alguma coisa que tivesse a ver com o assunto. Acabo de me dar conta de que não vou precisar ir muito longe. Esses dois casos atípicos de minha família ilustram um sincretismo doido que é a cara dessa Pindorama.