19 fevereiro 2007

Ironias de família.

Paratodos
Chico Buarque

O meu pai era paulista

Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro...

Outro dia estive pensando em duas situações incomuns ocorridas em minha família. Vamos a elas:

Meu avô paterno era filho de portugueses. O pai dele - meu bisavô, obviamente - tinha um açougue em uma praça movimentada da Freguesia, em Jacarepaguá, aqui no Rio. Meu pai conta que seu avô era um lusitano típico: com sotaque, bigodão e uns modos meio grosseiros. Meu avô nasceu no Brasil e tinha um jeitão meio "ora, pois" também. Portugueses ou descendentes destes, residentes nesta terra descoberta por Cabral, são vascaínos, claro. Meu avô era flamenguista. Doente. Carregava o escudo do mengão em tudo o que era canto: carro, chaveiro, cueca e até no relógio de pulso. Fanático.

Até hoje, meu avô foi o únco flamenguista filho de portugueses que conheci.

Tem mais. Minha bisavó materna era filha de italianos, nascida em Minas Gerais. Foi criada em um internato de freiras e depois veio para o Rio e se casou com um advogado todo sério, segundo minha avó, filha deles. Lembro dos traços europeus dela: olhos cor de mel, pele bem branquinha e aquele nariz meio "pscitacídico", característico do povo "tutti buona gente". Ocorre que minha bisa freqüentava um centro de umbanda e recebia santo. Havia um altar enorme na casa dela, com umas imagens de índio, preto velho e outras figuras do gênero. Ela "atendia" pessoas doentes em sua casa, recebia a entidade evocada para o caso, fumava cachimbo e rezava esses necessitados.

Até hoje, minha bisavó foi a única umbandista filha de italianos que conheci.

O tema da quinzena dos "Anjos de Prata" desta vez é "Tão Brasil!". Pensei que eu precisaria queimar a mufa e escavacar a imaginação até conseguir compor alguma coisa que tivesse a ver com o assunto. Acabo de me dar conta de que não vou precisar ir muito longe. Esses dois casos atípicos de minha família ilustram um sincretismo doido que é a cara dessa Pindorama.

Nenhum comentário: