30 maio 2011

Sobre o livro "Por uma vida melhor", adotado pelo MEC.

Eu não sou educadora, atuo na área da saúde, mas senti vontade de meter o bedelho nesse assunto tão polêmico sobre o trecho do livro “Por uma vida melhor”. Eis o referido trecho e, em seguida, o que penso sobre o assunto:

"Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro’?” Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião."

A reflexão da professora Heloísa Ramos sobre as variedades da língua portuguesa existentes em nosso país tem um valor importante para as relações sociais, principalmente por ela abordar a desigualdade linguística de forma respeitosa, contribuindo no combate ao preconceito e à intolerância. No entanto, a aplicação prática dessa reflexão pode confundir e até dificultar o entendimento de quem está sendo alfabetizado, mas talvez ainda não devidamente maduro para absorvê-la.

Embora eu possa parecer conservadora ou um tanto intransigente, creio que o discernimento seja fruto do conhecimento. Primeiramente o indivíduo precisa ser alfabetizado, depois deve acumular conhecimento e só então ele se tornará apto a distinguir as variantes de um determinado assunto e, consequentemente, a decidir com bom senso a melhor forma de aplicá-las nas diferentes situações. Ainda que a autora não tenha tido a intenção de defender o uso errado do português, ela se precipitou ao introduzir o conceito de pluralidade linguística dentro de um livro de alfabetização, antecipando e acelerando, assim, um processo de compreensão que, a meu ver, deveria ser mais gradativo.

A questão do preconceito linguístico também é delicada e me pareceu contraditória dentro desse contexto. Se é ensinado ao aluno que o uso da norma culta da língua portuguesa é uma ferramenta importante de ascensão social, isso significa que em algum momento da vida o não uso desta norma implicará alguma forma de exclusão. Portanto, aprender na escola que as variantes são permitidas e, mais tarde, deparar-se com um mundo competitivo, seletivo e que exige o uso do português culto como uma condição fundamental para se alcançar uma posição social mais digna, pode gerar um contrassenso de ideias com consequências, no mínimo, constrangedoras.