13 dezembro 2005

Gigante de Açúcar

Quem começou foi ele. Um dia me mandou uma mensagem e respondi cheia de hospitalidade. Ele correspondeu e o contato se intensificou. Dos recadinhos passamos para o chat, que demorou um pouco a firmar por conta de alguns desencontros. Senti doçura e paz naquelas palavras. Havia também senso de humor na justa medida, esse sonho de consumo que procuro nos homens. Fui me envolvendo. A imagem que se limitava a uma fotografia escaneada ganhou movimento e expressão pela webcam. As palavras redondas provinham de um olhar único e um sorriso ímpar. E eu crescendo com o contato e me empolgando com a intimidade.

De repente comecei a ter a sensação de que estava diante de uma fortaleza. De tão gentil e carinhoso, aquele jeito um tanto imutável e sempre de bem com a vida foi me tornando pequena. Eu, que estava tão perto do ponto de equilíbrio da gangorra, escorreguei para a extremidade, pesada que me tornava. Ele, mais leve, só fez crescer e parecer mais volumoso. Ocupa agora a posição alta e talvez não perceba que venho me encolhendo. Mas é bem provável que ele nem tenha tomado conhecimento da gangorra.

Pode ser que ele tenha me segurado em suas mãos e esteja ali, dentro daquela montanha de tranqüilidade esperando minha convulsão passar. Meus espasmos são silenciosos, mas absolutamente perceptíveis aos olhos atentos. Pena que eu, de tanto estremecer, esteja até duvidando se ele ao menos me enxerga. E se, de tanto disfarçar e me fazer de forte, ele se senitr desprezado e decidir se livrar de mim? É bem provável que não me largue de repente, cuidadoso que é, mas vai me ferir profundamente quando me colocar delicadamente no chão e permitir que eu me vá.

Antes me atirasse longe, porque deste gesto eu já sei como me defender, colocando a carapaça de fora. Por que a serenidade me apavora tanto? E por que só a brutalidade me pega pelos extremos e facilita minha defesa? Tantas incertezas e ele praticamente impassível. Queria aquela liberdade pra mim... Agora é tarde. Estou condicionada demais às grades da insegurança. Meus vôos perderam a direção e distorceram meus sentidos.

Só me resta, então, a esperença de saber que ainda me sobraram as ilusões. Posso sonhar com uma liberdade medíocre e trazê-la para o mundo real a partir do exato momento em que uma fragilidade dele abra uma brecha pra mim. Se a torre de açúcar não for tão impenetrável, sugo o néctar de um derretimento qualquer e aumento de tamanho. Ah... que ele reze por alma se eu avançar além do que deveria! Posso reduzí-lo a um torrãozinho e transportá-lo, aí sim, para minhas mãos. Ele vai suplicar, rogar que eu não termine de desmanchá-lo. Passarei para o outro lado da gangorra e dominarei a situação...

Quanto desperdício! Pra quê gangorra e enfrentamento? Com um pouco de desprendimento e crescimento de minha alma, bastará um balanço de jardim e nós dois sentados um ao lado do outro, olhando pra frente... e pro nada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo esse texto, Clau!
Me senti o próprio gigante de açúcar. Hehehehe.
Pretensioso, não?

Fora de brincadeira: delicioso. Não só pela doçura, mas pela sensibilidade.

Fazia tempo que eu não entrava no seu blog (no bom sentido, é claro)

Aliás, falando outro dia com um aluno, ele me perguntou: "quem foi que disse queo outro sentido é mau?"

Fiquei pensando...